quarta-feira, dezembro 07, 2011

Manoel de Barros sabe que Bola Sete não botava movimento, era incansável em não sair do lugar. E que para compensar tinha laia de poeta.



Bola sete

Bola sete não botava movimento.
Era incansável em não sair do lugar.
Igual o caranguejo de Buson que foi encontrado
de manhã debaixo do mesmo céu de ontem.
Pra compensar tinha laia de poeta.
Dava qualidades de flor a uma rã.
Dava as pessoas qualidade de água.
Isto ele fazia com letras, não precisava se mover.
Onde estava era ele, a manhã e suas garças;
era ele, o acaso e suas cores, era ele, o riacho e suas
margens; era ele, o horizonte e duas nuvens. Por aí.
Passarinhos brincavam nas paisagens de sua janela.
O mundo era perto.
Bastava estender as mãos que chegava no fim do
mundo.
Bola Sete não botava movimento.
Era um sujeito desverbado que nem uma oração
desverbada.

Manoel de Barros
(1916)
Mais sobre Manoel de Barros em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manoel_de_Barros 

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