sábado, abril 02, 2011

As lágrimas que Florbela chora, ninguém as vê brotar dentro da alma. E ninguém as vê cair dentro dela.


Lágrimas ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
em que ri e cantei, em que era q'rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Florbela Espanca
(1894-1930)

Mais sobre Florbela Espanca em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Florbela_Espanca

Um comentário:

Origami Art disse...

A beleza pode ser percebida e esculpida em tuas palavras, as dores do mundo e nossas dores as vezes parecem eternas!! beleza de poesia em versos!!