quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Para Mário de Sá-Carneiro, é infinitamente desgraçada a cortesã. Quando ama, esta mulher vê que coberta está de lama e que essa lama não pode ser tirada.



A cortesã

O penteado muito espaventoso,
Os lábios tintos com carmim,
Olheiras feitas a Nanquim
O vestido justo e vaporoso

Para as formas bem lhe amoldar.
Ela anda assim, quasi que nua,
De noute e de dia pela rua,
Pra trás e pra diante sem parar.

Entrega-se a qualquer pois necessita
Arranjar o seu preciso para viver
Vende o seu corpo por não ter
Outra cousa que venda...coitadita!...

É infinitamente desgraçada
Esta mulher que quando ama,
Vê que coberta está de lama,
E que essa lama não pode ser tirada.

Compaixão devemos pois nutrir
Por essa tão mísera criatura
Que como as honestas nasceu pura
Mais que depois veio a sucumbir!

Aquela que uma infância rodeada,
Tiver nunca de bem, sempre de mal
Vem a cair, isto é fatal
Nesta existência segregada!...

Mário de Sá-Carneiro
(1890-1916)

Mais sobre Mário Sá-Carneiro em
http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_de_S%C3%A1-Carneiro

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