sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Bertolt Brecht lembra os seus tempos de riqueza, apenas sete semanas da sua vida. E de como logo depois teve que fugir dos nazistas para não morrer.


Meu tempo de riqueza

Por sete semanas de minha vida fui rico.
Com os rendimentos de uma peça comprei
Uma casa com um grande jardim. Eu a havia
Observado durante mais tempo do que o que nela morei.
Em diferentes horas do dia e da noite eu passava
Para ver como ficavam as velhas árvores em meio à relva ao alvorecer
Ou o viveiro de carpas com musgo, numa manhã chuvosa
Para ver as sebes no pleno sol do meio-dia
Os rododendros brancos à tardinha, depois do toque do ângelus.
Então me mudei com os amigos. Meu carro
Ficou sob os pinheiros, Olhamos em torno: de nenhum lugar
Via-se os limites do jardim, os declives dos gramados
E os grupos de árvores impediam que uma sebe avistasse a outra.
Também a casa era bonita. A escada de madeira nobre, tratada com perícia
Com degraus baixos e balaustrada de belas medidas.
Os cômodos pintados de branco
Tinham tetos de madeira lavrada. Grandes fogões de ferro
De forma graciosa, traziam imagens gravadas: camponeses no trabalho.
Portas maciças levavam ao vestíbulo ameno, com bancos e mesas de carvalho
Suas maçanetas de bronze haviam sido cuidadosamente escolhidas
E as lajes em torno da casa de cor castanha
Eram lisas, e gastas com as pisadas
De antigos moradores. Que proporções agradáveis! Cada aposento
diferente
E cada qual o melhor. E como mudavam segundo a hora do dia!
Mas a mudança das estações, certamente preciosa, não vivemos, pois
Após sete semanas de genuína riqueza deixamos a propriedade; logo
Fugíamos através da fronteira.


Bertolt Brecht
(1898-1956)

Mais sobre Bertolt Brecht em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bertolt_Brecht


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