terça-feira, novembro 23, 2010

Mário de Sá-Carneiro a queria toda de violetas, febril e delicada, nua e friorenta. Água, devia ser o seu amor por ele.



A inegualável*

Ai, como eu te queria toda de violetas
E flébil de cetim...
Teus dedos, longos de marfim,
Que os sombreassem jóias pretas...

E tão febril e delicada
Que não pudesses dar um passo -
Sonhando estrelas, transtornada,
Com estampas de cor no regaço...

Queria-te nua e friorenta,
Aconchegando-te em zibelinas -
Sonolenta,
Ruiva de éteres e morfinas...

Ah! que as tuas nostalgias fossem guizos de prata -
Teus frenesis, lantejoulas;
E os ócios em que estiolas,
Luar que se desbarata...

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Teus beijos, queria-os de tule,
transparecendo carmim -
Os teus espasmos de seda...
- Água fria e clara numa noite azul.
Água, devia ser o teu amor por mim...

Mário de Sá-Carneiro
(1890-1916)

Mais sobre Mário de Sá-Carneiro em
http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_de_S%C3%A1-Carneiro

* como no original.

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