domingo, fevereiro 21, 2010

Alberto Caeiro sente que todo ele é qualquer força que o abandona. E que toda a realidade o olha como um girassol com a cara dela no meio.


O amor


O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma cousa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

Alberto Caeiro, um dos heterônimos de

Fernando Pessoa
(1888-1935)

Mais sobre Fernando Pessoa em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa

2 comentários:

LOUCA PELA VIDA disse...

Que lindo. Lindo mesmo.

Juliana disse...

Amo este poema.. Pessoa é incomparável!