sexta-feira, dezembro 18, 2009

Gonçalves Dias ama aqueles olhos tão negros, tão belos, tão puros. Olhos que falam de amores com tanta poesia, com tanta paixão.


Seus olhos


Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, de vivo luzir,
estrelas incertas, que as águas dormentes do mar vão ferir;

seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, têm meiga expressão,
mais doce que a brisa, - mais doce que a frauta quebrando a soidão.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, de vivo luzir,
são meigos infantes, gentis, engraçados brincando a sorrir.

São meigos infantes, brincando, saltando em jogo infantil,
inquietos, travessos; - causando tormento,
com beijos nos pagam a dor de um momento, com modo gentil.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, assim é que são;
às vezes luzindo, serenos, tranquilos, às vezes vulcão!

Ás vezes, oh! sim, derramam tão fraco, tão frouxo brilhar,
que a mim me parece que o ar lhes falece,
e os olhos tão meigos, que o pranto umedece, me fazem chorar.

Assim lindo infante, que dorme tranquilo, desperta a chorar;
e mudo e sisudo, cismando mil coisas, não pensa - a pensar.

Nas almas tão puras da virgem, do infante, às vezes do céu
cai doce harmonia duma harpa celeste,
um vago desejo; e a mente se veste de pranto co'um véu.

Que sejam saudades, que sejam desejos da pátria melhor;
eu amo seus olhos que choram sem causa um pranto sem dor.

Eu amo seus olhos tão negros, tão puros, de vivo fulgor;
seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
que falam de amores com tanta poesia, com tanto pudor.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, assim é que são;
eu amo esses olhos que falam de amores com tanta paixão.

Gonçalves Dias
(1823-1864)

Mais sobre Gonçalves Dias em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Gon%C3%A7alves_Dias

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