sexta-feira, outubro 16, 2009

No poema de Olavo Bilac, o padre pergunta quem é o pai da menina. Mas Jacinta, a mãe, pede para pensar, que ela não sabe catar agulha em palheiro.


Agulha em palheiro


Numa bela terça-feira
- taful, com ar de rainha,
Jacinta, mulher matreira,
vai batizar a filhinha.

Na torre o sino repica.
Que pompa! A gente da aldeia
corre toda! E a igreja fica
cheia, cheia, cheia, cheia.

No seu casulo dourado
o padre, sereno e grave,
aproxima-se. Ajoelhado
o povo murmura um'Ave.

Pega o padrinho uma vela,
pega a madrinha a criança
- menina gorducha e bela,
menina corada e mansa.

Contente o padre examina
o povo. E perto da pia:
"Quem é o pai da menina?"
pergunta com bonomia.

"Senhor padre, que pergunta!"
diz Jacinta corando...
E olha em roda a gente junta
e diz, o povo apontando:

"Oh! Trabalho extraordinário,
deixe-me pensar primeiro,
que eu não sei, senhor vigário,
catar agulha em palheiro".

Olavo Bilac
(1865-1918)

Mais sobre Olavo Bilac em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Olavo_Bilac

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