quinta-feira, agosto 27, 2009

Quando à morte a luz me roube, ganhe um momento o que perderam anos. E saiba morrer o que viver não soube, diz um bem-comportado Bocage .


Saiba morrer o que viver não soube


Meu ser evaporei na lida insana
do tropel de paixões que me arrastava.
Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
em mim quase imortal a essência humana.

De que inúmeros sóis a mente ufana
existência falaz me não dourava!
Mas eis sucumbe Natureza escrava
ao mal, que a vida em sua origem dana.

Prazeres, sócios meus e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si não coube,
no abismo vos sumiu dos desenganos.

Deus, ó Deus!... Quando à morte a luz me roube
ganhe um momento o que perderam anos
saiba morrer o que viver não soube.

Manuel Maria Barbosa du Bocage
(1765-1805)

Mais sobre Manuel Maria Barosa du Bocage em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Maria_Barbosa_du_Bocage

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