segunda-feira, junho 15, 2009

Menotti del Picchia sabe que tem a alma errante. E sente uma estranha delícia em tudo que passa e não dura, em tudo que foge e não pára...


Canção do meu sonho errante


Eu tenho a alma errante
e vago na terra a sonhar maravilhas...

Não para um momento!
Eu busco irriquieto o meu sonho inconstante
e sou como as asas, as velas, as quilhas,
as nuvens, o vento...

Eu sou como as coisas inquietas: o veio
que canta na leira; a fumaça que voa
na espira que sobe das achas; o anseio
dos longos coqueiros esguios;
a esteira de prata que deixa uma proa
no espelho dos rios.

Eu tenho a alma errante...

Boêmio, o meu sonho procura a carícia
fugace, procura
a glória mendaz e preclara.
Sou como a veia fenícia
ao largo, uma vela distante...

Eu tenho a alma errante...

E sinto uma estranha delícia
em tudo que passa e não dura,
em tudo que foge e não pára...

Menotti Del Picchia
(1892-1988)

Mais sobre Menotti Del Picchia em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Menotti_Del_Picchia

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