segunda-feira, janeiro 12, 2009

Para Paulo Mendes Campos, nada existe mais abstrato do que o poema concreto. Mas depois de chamar a Jônia, ele viu como dói viver em Babilônia.


Do tresloucado


- E nada existe mais abstrato do que o poema concreto.
Na solitude entrei em meu lugar.
As velas acendi. Tomei vanádio.
Os dentes areei. Liguei o rádio.
Eu vinha do festim de Baltasar.
Anunciava o locutor: "No Estádio
Nabucodonosor vai terminar
a luta, patrocínio de Paládio."
As ninfas já não pintam no meu lar.
Desliguei, desligado, o aparelho.
Em mim, no céu, fundia-se o sol-posto.
Doíam-me a coluna e o joelho.
Para tomar mais um, chamei a Jônia,
meiga mestiça, que m'o pôs a gosto.
Vê como dói viver em Babilônia.

Paulo Mendes Campos
(1922-1991)

Mais sobre Paulo Mendes Campos em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Mendes_Campos

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