sexta-feira, novembro 07, 2008

A mastigar baionetas a gente faz versos como quem quer lembrar o que nunca será lembrado. É a lei para Moacyr Félix em sua loucura de viver de poesia.


Antipoema 

A mastigar baionetas eu
também devorei a eternidade
desde que fui até Andromeda
ou pensei em ter ido
naquela primeira e perdida noite
em que o céu coube inteiramente
na minha janela de criança

A mastigar baionetas a gente
faz versos como quem quer
lembrar o que nunca mais será lembrado.
essa é a lei. Isso eu sei.
por isso é que a arte de escrever é uma frescura
e a realidade
é uma padaria
bem maior do que a minha loucura
de viver de poesia
ou
de urinar aquele céu numa pia.

Por isso é que ontem almocei a minha alma
e mais uma vez
usei, para estudar estética, o fundo do poço em que
se afoga o aprisionado olhar dos que têm fome.

Moacyr Félix
(1926- 2005)

Mais sobre Moacyr Félix em
http://en.wikipedia.org/wiki/Moacyr_F%C3%A9lix

Um comentário:

Anônimo disse...

Adoro o Moacyr Félix!