quarta-feira, setembro 10, 2008

Na longa rua de subúrbio, Mauro Mota sente um cheiro de jasmins e resedás que não vem dos jardins abandonados. Mas dos cabelos das moças de outrora.


Rua morta


Longa rua distante de subúrbio,
velha e comprida rua não violada pelos prefeitos,
passo sobre ti suavemente neste fim de tarde de domingo.

Sinto-te o coração pulsando oculto sob as areias.
O sangue circula na copa imensa dos flamboyants.

Tropeço nos passos perdidos há muito nestas areias,
onde as pedras não vieram ainda sepultá-los.
Passos de homens que jamais voltarão.

Ó velhos chalés de 1830,
eterniza-se entre as paredes o eco das vozes de invisíveis habitantes.
Mãos de sombras femininas abrem de leve janelas no oitão.

Há um cheiro de jasmins e resedás
que não vem dos jardins abandonados,
mas dos cabelos dos fantasmas das moças de outrora.

Mauro Mota
(1911-1984)

Mais sobre Mauro Mota em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mauro_Mota

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