sábado, maio 31, 2008

A castidade com que ela abria as coxas enlouquecia Drummond. Naquele momento, ele não era ninguém e era mil seres, sem ele ressuscitados.


A castidade com que abria as coxas

A castidade com que abria as coxas
e reluzia a sua flora brava.
Na mansuetude das ovelhas mochas,
e tão estreita, como se alargava.

Ah, coito, coito, morte de tão vida,
sepultura na grama, sem dizeres.
Em minha ardente substância esvaída,
eu não era ninguém e era mil seres

sem mim ressuscitados. Era Adão,
primeiro gesto nu ante a primeira
negritude de corpo feminino.

Roupa e tempo jaziam pelo chão.
E nem restava mais o mundo, à beira
dessa moita orvalhada, nem destino.

Carlos Drummond de Andrade

(1902-1987)

Mais sobre Carlos Drummond de Andrade em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Drummond_de_Andrade

Um comentário:

Anônimo disse...

Drummond e o erotismo sofisticado, de
bom gosto, de alto nível. Fiquei excitada, em todos os sentidos, só de ler o poema.
Carlos Drummond de Andrade, o mestre, o maior dos poetas brasileiros.
Obrigada por mais essa verdadeira jóia.
Beijo,
Adriana