segunda-feira, janeiro 14, 2008

No pranto de amor de Mario Quintana, nem tudo estará perdido enquanto nossos lábios não esquecerem teu nome: Cecília...


In Memoriam

I

Seus poemas desenham seu fino hastil
suas corolas vibrantes como pequeninas violas
(ou era a vibração incessante dos grilos?)
seus poemas floriam na tapeçaria ondulante dos prados
onde os colhia a mão das eternamente amadas
(as que morreram jovens são eternamente amadas...)

II

Seus poemas,
dentre as páginas de um seu livro,
apareciam sempre de surpresa,
e era como se a gente descobrisse uma folha seca
um bilhete de outrora
uma dor esquecida
que têm agora o lento e evanescente odor do tempo...

III

E seus poemas eram, de repente, como uma prece jamais ouvida
que nossos lábios recitavam --- ó temerosa delícia!
como se, numa língua desconhecida,
sem querer, falassem
da brevidade
e da
eternidade da vida...

IV

Ah, aquela a quem seguiam os versos ondulantes como dóceis panteras
e deixava por todas as coisas o misterioso reflexo do seu sorriso;
e que na concha de suas mãos, encantada e aflita, recebia
a prata das estrelas perdidas...

V

Nem tudo estará perdido
enquanto nossos lábios não esquecerem teu nome: Cecília...

Mario Quintana

(1906-1994)

Mais sobre Mario Quintana em

http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_Quintana

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