terça-feira, setembro 18, 2007

Mário Quintana via nas mãos do seu velho pai essa beleza que se chama simplesmente vida. Uma chama de vida que os anjos, um dia, chamarão de alma.


As mãos do meu Pai

As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já da cor da terra
-como são belas as tuas mãos pelo quanto lidaram,
acariciaram ou fremiram da nobre cólera dos justos...

Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.

E, ao entardecer, quando elas repousam nos braços da
tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...

Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente, vieste
alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?

Ah! como os fizeste arder, fulgir, com o milagre das tuas mãos!

E é, ainda, a vida que transfigura as tuas mãos nodosa...

essa chama de vida - que transcende a própria vida
...e que os Anjos, um dia, chamarão de alma.

Mário Quintana

(1906-1994)

Mais sobre Mário Quintana em
http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_Quintana

2 comentários:

Unknown disse...

Belíssimas poesias.
Parabens!!!

Anônimo disse...

A Beleza que Mário Quintana viu nas mãos de seu pai.
eu vejo nas mãos de minha mãe.
vejo os anos ...e me vejo nestes anos...vejo na maquina de costura...onde ela passou mais que a metade de sua vida...
agradeço as mãos dela por me corrigir quando precisei srsrsrrr.
hoje olho para minhas mãos e não vejo mais tanta diferença como eu via antes.minhas mãos também já trabalharam muito..criei filhos...acarico meu neto... hoje me vejo e me sinto mais perto de minha mãe.e vejo o quanto ainda temos vida...para amar..trabalhar cuidar...e ser amada.
E isso tudo se chama VIDA.