sábado, abril 21, 2007

Como um passo como de ir parar pela rua vazia, Fernando Pessoa ia sobre a chuva. Ia amargo e diluído e tinha a face nua.


Vou como um passo como de ir parar


Vou como um passo como de ir parar
Pela rua vazia
Nem sinto como um mal ou mal-'star
A vaga chuva fria...
Vou pela noite da indistinta rua
Alheio a andar e a ser
E a chuva leve em minha face nua
Orvalha de esquecer ...
Sim, tudo esqueço.Pela noite sou
Noite também
E vagaroso eu ... vou,
Fantasma de magia. No vácuo que se forma de eu ser eu
E da noite ser triste
Meu ser existe sem que seja meu
E anônimo persiste ... Qual é o instinto que fica esquecido
Entre o passeio e a rua?
Vou sob a chuva, amargo e diluído
E tenho a face nua.


Fernando Pessoa
(1888-1935)

Mais sobre Fernando Pessoa em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa

Nenhum comentário: