segunda-feira, dezembro 04, 2006

Cora Coralina quis ser um dia jardineira de um coração. Mas como coração é terra que ninguém vê, porta fechada foi o que ela encontrou.


Coração é terra que ninguém vê

Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Sachei, mondei - nada colhi.
Nasceram espinhos
e nos espinhos me feri.

Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Cavei, plantei.
Na terra ingrata
nada criei.

Semeador da Parábola...
Lancei a boa semente
a gestos largos...
Aves do céu levaram.
Espinhos do chão cobriram.
O resto se perdeu
na terra dura
da ingratidão

Coração é terra que ninguém vê
- diz o ditado.
Plantei, reguei, nada deu, não.
Terra de lagedo, de pedregulho,
- teu coração. Bati na porta de um coração.
Bati. Bati. Nada escutei.
Casa vazia. Porta fechada,
foi que encontrei...

Cora Coralina

(1889-1985)

Mais sobre Cora Coralina em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cora_Coralina


Um comentário:

Anônimo disse...

Um dos poemas mais lindos que eu
já li. Muito obrigado pelo post.
Ana E.